Caso Valério Luiz: Empresário Maurício Sampaio levado para cadeia em Aparecida de Goiânia

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Maurício Sampaio, ao fundo de camiseta preta, deixando a carceragem da Polícia Civil a caminho do Núcleo de Custódia

Empresário negou participação em
crime, mas polícia não tem dúvida
de que ele encomendou a execução

 

Texto: Rosana Melo
Foto: Sebastião Nogueira

 

O empresário Maurício Borges Sampaio, de 54 anos, foi transferido ontem(o5.02), no início da noite, da carceragem da Delegacia de Homicídios para uma cela especial no Núcleo de Custódia, no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. A transferência aconteceu por determinação da juíza substituta da 2ª Vara Criminal de Goiânia, Denise Gondim de Mendonça, imediatamente após o depoimento de Sampaio, que durou duas horas.

Sampaio negou participação no assassinato do cronista esportivo Valério Luiz de Oliveira, de 49 anos, morto a tiros na porta da rádio 820 AM, às 14 horas do dia 7 de julho do ano passado. O empresário foi preso no sábado, depois que o açougueiro Marcus Vinícius Pereira Xavier confessou ter executado Valério Luiz.

Além do executor confesso, estão presos o sargento Djalma Gomes da Silva, que prestava serviços de segurança a Maurício Sampaio, e Urbano de Carvalho Malta, que era motorista do tabelião e morava em uma casa de Maurício Sampaio em frente à rádio 820 AM, no Setor Serrinha.

A delegada Adriana Ribeiro de Barros, titular da Delegacia de Homicídios, vai representar pela prisão preventiva de Maurício Sampaio (ele está preso temporariamente por 30 dias), pois considera que o poderio econômico dele pode interferir na oitiva de novas testemunhas no inquérito.

Ela revelou que a família de Marcus Vinícius vem sendo ameaçada de morte desde a confissão do açougueiro. “Outros envolvidos estariam ameaçando o autor e a família dele”, contou.

Sampaio prestou depoimento a três delegados de Homicídios e na presença dos advogados Byron Seabra, Charife Oscar Abrão, Ruy Cruvinel Filho e Neilton Cruvinel Filho. O depoimento começou às 17 horas e terminou às 19 horas. Logo depois, o empresário foi levado ao Instituto Médico Legal (IML) para ser submetido a exame de corpo de delito e encaminhado ao Núcleo de Custódia, em Aparecida de Goiânia.

Assim que deixou a carceragem da Delegacia de Homicídios, Sampaio saiu sorrindo pelos fundos da delegacia, onde foi colocado em um carro oficial. A viúva de Valério Luiz, a advogada Lorena Nascimento Oliveira, de 31, e o pai dela, o comerciante Waterloo Nascimento, de 53, chamaram o empresário de assassino. “Só vamos acreditar em Justiça depois que ele tiver sido condenado”, disse o pai de Lorena.

Atlético

Sampaio disse, no depoimento, que entrou como conselheiro no Atlético Clube Goianiense em 2005, a convite do amigo Marco Antônio Caldas e que permaneceu como vice-presidente do time cerca de 10 a 15 dias antes do assassinato de Valério Luiz.

Radialista

Alegando ter uma relação estritamente profissional com Valério Luiz, o empresário disse que não tinha qualquer relação de amizade ou de inimizade com a vítima, que era considerado um comentarista esportivo polêmico.

Revelou que o Atlético registrou procedimento policial no 1º Distrito, no Centro, contra Valério Luiz que havia feito comentários contra o time. Sampaio foi preposto do clube na ação no Juizado Especial do Parque Atheneu, onde não foi feito acordo entre as partes. Esse teria sido o último contato de Sampaio com Valério Luiz.

Ratos

Sampaio alegou não ter se ofendido com o comentário do radialista aos dirigentes do Atlético, que vivia uma má fase. Valério acusou dirigentes de serem como ratos, que são os primeiros a abandonar o barco em caso de naufrágio.

Carta

Sampaio disse que chegou a assinar uma carta proibindo a entrada das equipes da PUC TV e da 820 AM nas dependências do Atlético. A carta teria sido redigida por Adson Batista e assinada pelo presidente Valdivino de Oliveira. O empresário alega que não leu a carta e que Valério já havia sido proibido de entrar nas dependências do Goiás Esporte Clube e do Vila Nova.

Dia do crime

Sampaio disse que passou a manhã inteira de 5 de julho em casa e chegou ao cartório de sua propriedade às 15 horas, ficando por lá até por volta das 19 horas, quando voltou para casa e não saiu mais. Nesse tempo, estaria com o advogado e amigo Neilton Cruvinel.

Ele alega que foi Urbano que o avisou sobre o assassinato de Valério Luiz e que ficou estarrecido ao saber da morte do cronista esportivo. Urbano teria ido ao cartório nesse horário para arrumar a documentação de um caminhão pertencente a Maurício Sampaio.

O empresário nega que tenha recebido telefonemas de Urbano ou do sargento Da Silva no dia do crime. A Polícia Civil, porém, afirma ter escutas que refutam essa informação. Urbano teria ligado no telefone do cartório para informar a morte de Valério Luiz. Sampaio informa ainda que dias antes da morte do cronista esportivo perdeu o celular em uma viagem ao Rio de Janeiro.

Executor

Sampaio disse que não conhece e nem teve contato com Marcus Vinícius, que confessou ter executado o radialista. Não entende também porque o executor confesso o apontou como mandante do crime. O empresário negou participação na morte de Valério Luiz e disse que não sabe se Urbano e o sargento Da Silva contrataram Marcus Vinícius para matar Valério Luiz.

Ele alega ter conhecido o sargento Da Silva e o cabo Ademá Figueiredo em jogos do Atlético e que os dois, esporadicamente trabalhavam como seguranças dele em jogos do time.

Traição

Casado há 32 anos com Maria Cândia Câmara Sampaio, Maurício achou absurda a afirmação de Marcus Vinícius que ele o havia contratado para matar Valério Luiz porque o radialista teria um caso com sua esposa.

 

Advogado de empresário volta a rebater acusação da polícia

Texto: Malu Longo

Foi uma manhã de segunda-feira bastante movimentada na Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH). Como o interrogatório de Maurício Sampaio estava marcado para as 10 horas, seus advogados, os ex-desembargadores Byron Seabra Guimarães, Oscar Charife Abrão e João Ubaldo Ferreira Filho, além de Ruy Cruvinel Neto e Neilton Cruvinel Filho chegaram cedo à delegacia. Também esteve na especializada o diretor geral da Polícia Civil, João Carlos Gorski. Por volta das 9h30, um escrivão comunicou que o depoimento seria colhido à tarde porque a delegada titular, Adriana de Barros Ribeiro, estava em diligência tentando obter mais informações para o inquérito sobre o assassinato de Valério Luiz de Oliveira.

Neilton Cruvinel Filho comentou que na DIH estava não um grupo de advogados, mas um grupo de “grandes amigos” de Maurício Sampaio. Ele disse que seu cliente, amigo, sócio e compadre estava tenso desde o início das investigações. “O Mané de Oliveira fez acusação contra ele no primeiro momento, mas ele é inocente, não há provas contra ele. Maurício não é esse monstro que estão dizendo”, afirmou. Para o advogado, o depoimento do açougueiro Marcus Vinícius, o Marquinhos, que confessou ter atirado em Valério depois de ser contratado por Urbano Carvalho de Malta, funcionário de Sampaio, está cheio de inconsistências.

Embora em seu depoimento à delegada Adriana Ribeiro de Barros, Urbano Carvalho de Malta tenha negado conhecer Maurício Sampaio, ontem o advogado Neilton Cruvinel confirmou que Urbano era, sim, prestador de serviços para o empresário. “Ele gerencia os caminhões do Maurício. Ele ocupava a casa em frente à rádio porque o Maurício comprou a área de 6 mil metros com o objetivo de construir um prédio, que já tem até projeto. Como estava ociosa e o Urbano precisava de espaço, pediu para guardar os caminhões lá. Neilton Cruvinel mencionou o assassinato de Valério Luiz como “coisa de bandido”. “Mataram cruelmente um pai de família”, afirmou.

Ameaças

Quem também esteve nas especializadas foi o advogado Alves Ferrari, contratado pelo açougueiro Marcus Vinícius, que confessou ter atirado em Valério Luiz. Marquinhos está detido na carceragem da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), ao lado da DIH. “Ele me passou a procuração para defendê-lo, vou juntar aos autos e pedir uma cópia do inquérito”, afirmou o advogado. Segundo ele, Marquinhos está abatido e preocupado com a família. Mais tarde, a delegada Flávia Teles confirmou que o acusado pediu ajuda à DIH porque seus familiares foram ameaçados de morte. Em uma reunião nesta tarde, os responsáveis pela investigação vão definir o que será feito, até mesmo para preservar a integridade física de Marquinhos, peça-chave no inquérito.

Empresário é visitado por padre

O empresário Maurício Sampaio recebeu ontem uma visita que chamou a atenção. O padre Luiz Augusto, da Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus, em Aparecida de Goiânia, esteve na DIH para, segundo ele, dar uma benção no empresário e levar uma palavra de fé e de esperança. “É uma pessoa que sempre esteve comigo, que colabora com as obras sociais da paróquia. Acredito na inocência dele. Ele está tranquilo e certo de que tudo será esclarecido. Minha missão é rezar por ele e pelo Mané de Oliveira”, disse o padre.

O religioso, que ficou poucos minutos na carceragem da DIH, encontrou na saída com o comentarista esportivo Mané de Oliveira. “O senhor veio rezar pelo bandido, padre?”, questionou o radialista. “O senhor precisa acalmar o seu coração”, respondeu o padre Luiz Augusto. “Preciso, mas na hora em que o Valério foi assassinado o senhor não foi rezar por ele no velório, não é?”, respondeu Mané de Oliveira. Após a saída do religioso, o radialista afirmou que para a igreja todos deveriam ser iguais, mas aposta na justiça divina. “Ela não vai falhar”.

No período da manhã Mané de Oliveira esteve com o secretário Joaquim Mesquita, em seu gabinete na Secretaria de Segurança Pública e Justiça. Ele disse que foi agradecer “o belíssimo papel” da Polícia Civil no trabalho de investigação do assassinato do filho, Valério Luiz, mas também solicitou que outra pessoa, além de Maurício Sampaio, que ele chamou de “muito importante”, seja investigada. Embora não tenha citado nomes, ele acredita que exista outra pessoa que articulou o crime.

Na DIH, para onde se dirigiu na esperança de acompanhar o depoimento de Maurício Sampaio, o radialista de 73 anos foi abordado pelo aposentado Joaquim da Silva, que perdeu o único filho num assalto no Setor São Judas Tadeu, dez dias antes do assassinato de Valério Luiz, se aproximou de Mané de Oliveira. “Eu estou sofrendo da mesma dor”, disse Silva.

Fonte: O Popular