Jovem, bonita e prestativa. Com esses atributos e boa conversa, Rosimeire Aparecida da Silva, de 27 anos, não tinha dificuldade em convencer, principalmente idosos, de que estava ali para ajudar. Sempre aos fins de semana, a moça loira e bem vestida aparecia em uma das agências do Banco do Brasil de Goiânia – ela tinha preferência por seis delas -, para aplicar, junto com pelo menos mais quatro pessoas, golpes nos clientes que faziam transações em caixas eletrônicos.
Desde maio, quando há o primeiro registro de atuação da quadrilha em Goiânia, até agora, a Polícia Civil estima que o grupo tenha levantado em torno de R$ 1 milhão com o golpe. As agências eram cuidadosamente escolhidas pelo perfil do público usuário. Todas localizadas em áreas nobres, onde as chances de haver correntistas endinheirados era maior. O grupo vinha de Minas Gerais, provavelmente Divinópolis, de onde Rosimeire era natural, para Goiânia praticamente todo fim de semana.
O golpe seguia um ritual e modo de operação específico: escolhida uma agência, um homem ia até o local, definia o caixa eletrônico e instalava um dispositivo, conhecido com chupa-cabras, que retém o cartão. Do lado de fora, uma outra mulher, também loira e bonita, dava apoio a Rosimeire, que entrava na agência e observava a movimentação dos clientes, ficando a postos para auxiliar aqueles que tinham seus cartões retidos na máquina adulterada.
Prestativa, até utilizava uma pinça para tentar tirar o cartão, quando então sugeria que a pessoa ligasse para a central de atendimento, buscava um folder falso, que ela mesma tinha levado para o local, e dava os números para efetuar ligação. Se a pessoa estivesse sem celular, oferecia o seu.
Ao ligar, a vítima era atendida por uma outra mulher integrante da quadrilha, que orientava a vítima a se afastar de outras pessoas, já que poderiam ouvir as informações sigilosas, e passar dados com senha do cartão e informações pessoais. Ao final, recebia um número de protocolo e a informação de que iria receber, em casa, em três dias, um novo cartão. Os folderes copiavam os originais, com telefones trocados. Os telefones verdadeiros são iniciados com 0800 – o do material falsificado tinha números de São Paulo.
Após aplicado o golpe, o homem voltava à agência, retirava o dispositivo e recuperava o cartão. A partir daí, dava-se início a uma série de transações, que incluiam saques, transferências, pagamento de contas, inclusive de impostos devidos à Secretaria da Fazenda de Minas Gerais, compras e realização de empréstimos.
Muitas das vítimas eram pessoas esclarecidas, com formação superior e até um alto servidor do Ministério Público, que foi lesado em R$ 118 mil. Outra vítima teve prejuízo de R$ 60 mil e uma terceira, mais de R$ 40 mil. Já foram reunidas 12 ocorrências, com golpes aplicados entre 15 de maio e 20 de novembro. Em seis meses, a partir de maio, o golpe foi aplicado nas agências do BB da T-63, República do Líbano, Jardim Goiás, Santa Genoveva, Avenida 85, Praça da Bíblia e Praça Cívica.
A prisão
Rosimeire foi presa no fim da manhã de sábado, na agência da T-7, no Setor Bueno, quando tentava aplicar o golpe em uma mulher de 94 anos. A idosa estava acompanhada por Lucelene Barbosa de Sousa, sua cuidadora, que conta que estava terminando de estacionar o carro, quando foi abordada por uma mulher que pedia informação sobre uma loja, que ela não conhecia.
A mulher que ela acompanhava havia descido do carro e se dirigido aos caixas. “Ela é muito independente e não gosta que ninguém faça nada por ela. Quando entrei no banco, o cartão já estava retido e a moça (Rosimeire) estava ao telefone para passar a senha. Eu tomei o telefone da mão dela, que disse ser funcionária do banco, mas questionei porque era sábado e no fim de semana não fica funcionário na agência”, contou.
Logo em seguida, um funcionário do serviço de segurança do banco, que já estava monitorando a ação da quadrilha, abordou Rosimeire e chamou a polícia. Outros três comparsas, que aguardavam do lado de fora, em um Audi A3 prata, conseguiram fugir. Eles estavam hospedados em um hotel, no Centro de Goiânia.
De acordo com o delegado de polícia Manoel Borges, do 4º Distrito Policial (DP) de Goiânia, para onde foram encaminhadas todas as ocorrências, o grupo era monitorado havia três semanas. Rosimeire foi presa em flagrante. Ela está detida no 14º DP. Ontem (12.12), foi reconhecida por pelo menos duas vítimas. A Polícia Civil diz que a quadrilha tem atuação em todo o País.
Texto: Carla Oliveira – O Popular
Foto: Pedro Ceciliano – Diário da Manhã